DEZ ANOS DEPOIS, AMIGOS E SOBREVIVENTES DO ACIDENTE DA BANDA METADE FAZEM HOMENAGEM À DANNY

A noite deveria ser especial. Era o fim de semana de estreia, da consagração do sucesso da cantora Danny, de 24 anos, que tinha acabado de deixar a Mega Star para assumir o posto de nova vocalista da banda de brega mais estourada em 2004: a Metade. Mas os momentos de alegria duraram pouco tempo. Uma tragédia acabava com o sonho de Danny e deixava marcas profundas na história do brega do Recife. Foi há exatos 10 anos atrás.

Danny estava na Metade há apenas uma semana quando um acidente com o ônibus da banda a vitimou.
Foto: reprodução/youtube

O acidente com o ônibus da banda Metade resultou em dois mortos e mais de 20 feridos. Na tragédia morreram a vocalista Ivanira Melo de Souza, a Danny, e o irmão do empresário e também dono da banda, Usiel Barbosa de Moura, o Birutinha, na época com 34 anos. Os 23 integrantes da banda deixavam a cidade de Machados, no ônibus do grupo, com destino a capital pernambucana para mais duas apresentações. Mas por volta da 1h da madrugada, o veículo saiu da rodovia estadual PE-89, capotou e caiu em uma ribanceira de quase 100 metros de altura. Chovia muito no dia.

Os integrantes disseram que ouviram o motorista José Martins da Silva gritar que o carro estava sem freio. Danny teve as pernas dilaceradas e Birutinha apresentava esmagamento no tórax e na face. Outras 21 pessoas ficaram feridas e foram levadas para o Hospital Edison Alvares, em Machados. Cinco em estado grave foram socorridos para o Hospital da Restauração, os outros 16 componentes foram medicados e receberam alta médica.

Dez anos depois da tragédia, a ex bailarina Roberta Sampaio, que foi uma das que ficou mais feridas no acidente, com fraturas nas duas pernas, ainda não esqueceu do que passou. “Eu fico toda arrepiada só de lembrar. As marcas físicas ficaram no meu corpo, com 25 cicatrizes, por coincidência, exatamente o numero de pessoas que estavam no ônibus. Mas a maior ferida foi no coração, com a perda de Danny e Birutinha”, conta Roberta, que hoje trabalha como promotora de vendas.

Roberta era dançarina da banda Metade. Ficou gravemente ferida, mas sobreviveu ao acidente. 

Tanto Roberta quanto a maioria dos integrantes da banda se recuperaram bem. Alguns voltaram a integrar a Metade por um tempo, outros seguiram caminhos diferentes. Um deles é Wagner Farias, hoje a frente do Forró do Pistolão. Ao ver as imagens da época do acidente, o cantor diz se lembrar de cada detalhe. “Eu lembro bem de ter ouvido o motorista gritar que o carro estava sem freio. Ele pulou do ônibus ainda em movimento. Birutinha deu um salto pra tentar segurar o volante, mas não teve mais jeito. Eu me segurei e fui parar dentro do porta bagagens”, lembrou.

Wagner hoje canta no Forró do Pistolão. Foto: divulgação.

Wagner conta que uma imagem não sai da memoria. “Pra sair do veículo, a gente tinha que passar por cima do corpo de Danny. Foi uma imagem terrível. Foi tudo tão rápido. Acho que a morte dela foi instantânea”, disse. O corpo de Danny foi enterrado no cemitério de Águas Compridas, sob forte comoção popular. Hoje, os restos mortais já não estão mais lá, foram transferidos para outro cemitério, mas quem viveu aquele momento não esquece. “Foi o sepultamento de maior público e maior comoção aqui. As pessoas se apertavam, corriam, perdiam as sandálias para chegar perto do caixão e prestar uma ultima homenagem”, lembrou Luciano Silva, administrador do Cemitério.

Era o segundo dia de Danny na banda Metade. O sucesso foi meteórico. Revelada na Mega Star, a cantora logo conquistou o público pela beleza, pela voz e principalmente pelo jeito irreverente, pelo carisma. Danny foi convidada pelos empresários da Metade a substituir a cantora Michele Mello, que estava seguindo carreira solo.  A primeira e última apresentação de Danny em TV à frente da Metade foi no programa Tribuna Show, na TV Tribuna.

Única apresentação de Danny à frente da banda Metade aconteceu um dia antes do acidente.
Foto: divulgação/Youtube

“É impossível esquecer de Danny. Eu lembro da beleza dela, do jeito de conquistar a todos. Ela mexia o cabelo como ninguém, se jogava no palco, conquistava o público. Era uma artista completa, que ainda iria fazer muito sucesso”, conta Eliel Barbosa, o empresário da banda Metade. Ele perdeu não só a cantora, como também o irmão. “Na hora, a gente fica sem chão, só pensa em ir embora também. Nessa noite, eu tinha decidido ficar no Recife, esperando a banda chegar para fazer o último show da noite, no Clube Bela Vista. Parece que foi algo do destino. Nada acontece sem ser da vontade de Deus”, contou.

Eliel, empresário da banda Metade, também perdeu o irmão Usiel Barbosa no acidente.

Fazia apenas uma semana que Michelle Melo tinha deixado a banda para seguir carreira solo. Ela ficou traumatizada, acredita que foi um livramento. “Quando eu soube do acidente, foi um choque. Muita gente inclusive pensava que tinha sido eu a vocalista da banda Metade que havia morrido. E só não foi por pouco realmente. Pelo que me contaram, Danny fez na viagem tudo exatamente como eu fazia. Ficou na frente, ao lado do motorista, para poupar a voz do forte ar condicionado. Sentou onde eu sentava. Se eu tivesse lá, com certeza, teria sido a vítima”, explicou Michelle.

A banda Metade, hoje com 18 anos, é formada por novos músicos. Nenhum profissional que esteve no acidente participa da banda. Michele retornou ao grupo há menos de três anos e segue com o apoio dos fãs, que até hoje não esqueceram Danny. “Eu lembro que costumava dizer a Danny que ela era uma menina muito forte, de personalidade e caráter. Ela chegou a ligar pra minha casa um dia antes da viagem pra dizer que só tinha aceitado o convite porque sabia que era uma decisão minha sair da Metade. E que nunca passaria por cima de mim. Eu não estava em casa e a conversa foi com minha mãe, que me passou o recado. A única mensagem que eu deixo é para que nós nos amemos mais, aproveitemos cada momento da vida, porque não sabemos o dia de amanhã”, finalizou.

Dez anos após o acidente, Michelle Melo ainda se emociona ao falar da tragédia.